Boa notícia: inovação da vacina contra dependência química da UFMG

Entenda melhor como funciona a vacina contra dependência química, a Calixcoca, e os impactos que ela pode trazer à sociedade.

Rafael Bertin

6/6/20244 min read

Vacina contra dependência química
Vacina contra dependência química

Para nós, profissionais da saúde que lidamos com usuários de drogas, saber que uma vacina contra dependência química está sendo desenvolvida desperta uma enorme esperança no que diz respeito ao sucesso na recuperação de vidas!

A Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) desenvolveu a vacina denominada Calixcoca. Essa solução inovadora brasileira promete ser eficaz contra os efeitos no cérebro da cocaína e do crack especificamente.

Entenda melhor como funciona esse medicamento, como está o seu desenvolvimento e o impacto que ele pode trazer aos dependentes químicos e à sociedade. Continue a leitura e vamos juntos torcer por esse projeto!

O que é a Calixcoca, a vacina contra dependência química, e como ela age?

Mais de 18 milhões de pessoas no mundo consomem crack ou cocaína, sendo os EUA o número 1 no consumo, seguido pelo Brasil.

Diante dessa dura realidade, o Núcleo de Pesquisa em Vulnerabilidade e Saúde (NAVeS), que faz parte da Faculdade de Medicina da (UFMG), trabalha numa solução para isso.

O pesquisador Dr. Frederico Garcia, que está a frente desse projeto, explica que a “vacina” Calixcoca não é bem uma vacina…Trata-se de um medicamento terapêutico modular do sistema imune.

Ou seja, ela produz anticorpos para que toda vez que a pessoa usar cocaína ou crack o corpo seja capaz de bloquear a passagem da droga para o cérebro.

O medicamento corta a sensação prazerosa provocada no cérebro, chamada de área de recompensa e com isso, ele quebra o ciclo de compulsão pela droga que leva a dependência.

Por isso, ela é chamada de vacina terapêutica, pois ela age como um estímulo para auxiliar os dependentes a deixar de usar a substância.

Já nas grávidas ela é terapêutica e preventiva, pois impede a droga de passar pelo cérebro e pela placenta, evitando efeitos no feto.

Pesquisadores da UFMG estudando a Calixcoca
Pesquisadores da UFMG estudando a Calixcoca

As fases para o desenvolvimento da Vacina

A Calixcoca já passou por vários testes em animais, sendo replicadas em 3 espécies de vertebrados, um deles primatas não humanos, para maximizar as chances de ter a mesma resposta nos humanos.

A segunda etapa são os testes em pessoas para, assim, conseguir o registro da medicação. Para isso, será necessário executar 3 fases que consistem em:

Fase 1

Para obter o aval da ANVISA, o medicamento precisa atender a exigência de qualidades das “Boas Práticas Laboratoriais". Posteriormente a isso, poderá ser usado em humanos.

Fase 2

Em seguida, os pesquisadores testarão a vacina em voluntários para avaliar os efeitos colaterais e as respostas imunizantes. Bem como, buscarão saber a dose ideal para obter essa resposta positiva.

Fase 3

É um estudo clínico que envolve a participação do estudo dentro de hospitais e clínicas que fazem tratamento de abstinência.

Serão testadas 2 grupos de pessoas: um grupo que receberá placebo e outro que receberá a vacina. Elas serão acompanhadas por 6 meses para medir a taxa de recaídas no uso de drogas por meio de exames de urina.

Segundo o Dr Frederico Garcia, é possível que esse tempo de testes seja encurtado, visto que a Anvisa permite introduzir o medicamento no mercado caso ele se mostre eficaz e única alternativa para uma determinada doença.

Como este é um problema de saúde pública, existe essa expectativa para que os tratamentos de dependência comecem a usar a vacina o quanto antes.

Quais os impactos que a vacina pode trazer no tratamento de dependentes químicos?

A ideia não é distribuir a vacina para todos os adictos, mas usá-la na fase de tratamento de abstinência.

Atualmente, 1 a cada 4 usuários consegue se recuperar da dependência química depois de 5 anos de tratamento. A expectativa dos pesquisadores é mudar essa realidade e aumentar o número de pessoas que se recuperam.

As abordagens no tratamento brasileiros para pessoas dependentes de substâncias se resumem em 5 etapas:

  1. Redução de danos.

  2. Entrevista motivacional: somente após essa entrevista é determinado o tratamento.

  3. Tratamento com equipe multidisciplinar: onde é detectada a necessidade de internação, acompanhamento médico, ambulatorial, medicações.

  4. Terapias: a fim de ajudar o indivíduo já estável a se reinserir na sociedade.

  5. Neuropsicologia ou psicoterapias: para remediar o impacto da droga na vida dos usuários.


A ideia é que a vacina entre na etapa 3, para aumentar as chances das pessoas vencerem a fase da abstinência e assim, diminuir as chances de recaídas.

A conquista do Prêmio Euro de Inovação na saúde

Em 2023 o projeto ganhou o prêmio internacional Euro Inovação na Saúde da América Latina, financiado pela empresa farmacêutica Eurofarma.

O projeto superou 11 iniciativas no campo da saúde e o valor angariado de 500 mil euros será fundamental para o avanço dos experimentos.

E você, o que acha dessa novidade?

Essa notícia é uma grande conquista para medicina brasileira, já que essa será a 1a vacina anticocaína e antidrogas no mundo, usado como medicamento.

Além disso, prevê-se grandes benefícios para a sociedade brasileira, como menores custos de produção e oportunidades de exportação.

Contudo, o maior benefício é para famílias e comunidades, melhorando a qualidade de vida das pessoas afetadas, trazendo alívio às famílias de dependentes e reduzindo problemas em comunidades com o uso de drogas.

Essa vacina é uma nova esperança na luta contra a dependência química. Vamos torcer para que em breve os brasileiros possam contar com essa alternativa!

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Referência:

Temporalidades – Revista de História, ISSN 1984-6150, Edição 39, v. 15, n. 1 (Mar. 2023/Set. 2023)

Pesquisadores da UFMG | Foto: Douglas Magno / AFP